24 de agosto de 2015

Terceira morte em três anos: soldado do Exército morre vítima de disparo de arma de fogo em Juiz de Fora

Olavo PrazeresSoldado morre após disparo de arma
Breno Luiz Teixeira, 19 anos, morreu com um tiro de fuzil enquanto ocupava o posto de sentinela na tarde de ontem

SANDRA ZANELLA 
Às vésperas do Dia do Soldado, comemorado nesta terça-feira (25), o Exército registrou mais um caso de jovem morto com tiro dentro de quartel na cidade, em cumprimento do serviço militar obrigatório. Na tarde de domingo (23), Breno Luiz Teixeira, 19 anos, estava em um posto de sentinela no 4º Grupo de Artilharia de Campanha Leve (GAC), no Bairro Nova Era, Zona Norte, quando foi alvejado por um disparo de fuzil, que teria entrado por baixo de seu queixo. A família do recruta, que sonhava em ser policial militar ou engenheiro, questiona as circunstâncias da morte, ainda não esclarecidas pelo Exército. Para o pai, Sebastião Teixeira Lima, 46, apenas o fato de o filho manusear uma arma de guerra, como o fuzil, já é “errado”: “Não podemos julgar, mas só quero justiça. Esse já é o terceiro caso em Juiz de Fora. Acho que o treinamento tem que ser mais humano. Meu filho falava que não podia dormir, nem piscar o olho, que era punido”, desabafou. Em nota emitida pela assessoria de comunicação da 4ª Brigada de Infantaria Leve (Montanha), a corporação confirmou o óbito do “soldado do efetivo variável” no 4º GAC. “O falecimento do referido soldado ocorreu no posto de sentinela, por volta de 14h30, decorrente de um tiro de fuzil”, diz o comunicado.
Breno teria sido atingido pelo disparo da própria arma que portava, enquanto exercia o trabalho de soldado armado, guardando um posto. “A Perícia do Exército realizada no local verificou fortes indícios de suicídio”, informou a assessoria, acrescentando que foi instaurado um Inquérito Policial Militar (IPM) para averiguar o fato. A Força Armada ainda garantiu ter providenciado uma equipe, composta por médico e psicólogo, “para prestar atendimentos aos familiares do militar falecido”.
Sebastião contou que o recruta, morador do Bairro Milho Branco, na Zona Norte, entrou no serviço militar no começo deste ano, há cerca de seis meses. O jovem completou 19 anos no último dia 15, e o pai revelou que ele preferia ter seguido com os estudos no ensino médio do Colégio de Aplicação João XXIII. “Ele não queria servir, mas serviu e falou que iria ficar lá até vencer o prazo.” Sebastião contou que a tragédia aconteceu no dia que o soldado teria sofrido mudança repentina no horário de serviço. “Ele iria trabalhar de manhã, mas mudaram o horário dele para a parte da tarde, e aconteceu isso.”
Apesar de o óbito ter ocorrido por volta das 14h30, como informou o Exército em nota, o pai disse só ter sido informado sobre a morte de Breno por volta das 18h. “Eles (militares) foram na casa da mãe dele e me ligaram. Nem acreditei, achei que fosse pegadinha, porque andam fazendo isso. Falei: ‘não brinca com isso, não brinca com coisa séria’. Mas era verdade”, lamentou. “Falaram que houve um acidente, e ele não resistiu. Só isso.” Vivendo separado da mãe de Breno há cerca de dois anos, Sebastião contou que a mulher morava com o jovem e está muito abalada. “Ela está arrasada. Era nosso único filho.”

Pai diz que filho fazia muitos planos
O pai do soldado Breno Luiz Teixeira, 19 anos, morto com um tiro de fuzil na tarde de domingo, durante serviço de sentinela no 4º GAC, não acredita na hipótese de suicídio, apontada pelo Exército. “Ele era muito alegre, cheio de vida, tinha saúde e fazia muitos planos. Quero que a morte dele seja apurada, porque esse não é o primeiro caso”, disse Sebastião Teixeira Lima. Ele acredita que há “exagero” e “rigor” desnecessários no treinamento militar. “Não estamos em uma guerra.”
Sebastião lastimou o fato de a vida de Breno ter sido interrompida de maneira tão brusca e violenta. “Ele estudava no melhor colégio e sempre demos força para ele ser alguém na vida, já que não conseguimos”, disse o pai, que já trabalhou como cobrador de ônibus e motorista. “Ele só parou com os estudos para ir para o Exército, mas ia voltar. Aí, infelizmente, aconteceu isso com ele.” O jovem contava ao pai que o fuzil era pesado e difícil de manusear. “Eles (soldados) não têm preparo para lidar com isso.”
O corpo do recruta passou por necropsia no Instituto Médico Legal (IML) na manhã de ontem. Procurada pela Tribuna, a mãe do rapaz estava amparada por militares e preferiu não comentar a morte do filho. O jovem foi velado e sepultado no Cemitério Municipal na tarde de ontem. O enterro, às 16h30, foi acompanhado por dezenas de militares. “Não queria ver meu filho nessa situação, mas não quero que acabe assim, quero saber o que aconteceu”, finalizou o pai.
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Terceira morte
O óbito de Breno foi a terceira morte de soldado atingido por tiro dentro de um quartel de Juiz de Fora em um período de menos de três anos. “Já foram três famílias sofrendo. São meninos que vão para lá para ter um objetivo de vida, para lutar pelo país e acabam morrendo. Acho isso injusto”, disse Jeane Barbosa, amiga da família de Breno.
O recruta morreu pouco mais de um ano depois de Rodrigo Luís de Paula Souza, 19, ter sido atingido no tórax por um tiro de fuzil automático leve, na 4ª Brigada de Infantaria Leve (Montanha), no Mariano Procópio. No dia 18 do mês passado, quando a tragédia completou um ano, a vítima foi homenageada pelo Exército, que colocou seu nome na sala da instrução da Companhia de Comando da unidade, onde o rapaz era lotado. Rodrigo morreu depois de ser atingido por um tiro acidental disparado por um colega, quando ocorria a troca de turno no corpo da guarda.
Já em janeiro de 2013, o recruta Jonathan Loures Rodrigues, 19, foi alvejado por um tiro de fuzil na cabeça, quando encerrava o turno de sentinela nas dependências do 4º Depósito de Suprimentos (4º D Sup), no Bairro Barbosa Lage, Zona Norte. Ele estava acompanhado de outro soldado, 19, que portava a arma de onde partiu o tiro.
Tribuna de Minas/montedo.com

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