2 de fevereiro de 2015

Comandante olímpico: até agora 'não tenho um senão' quanto à lisura dos contratos.

General que preside a APO diz que Jogos do Rio serão modestos, porém eficientes e diz que risco de lixo atrapalhar provas da Vela faz parte do inusitado no esporte

General Fernando Azevedo e Silva, presidente da Autoridade Pública Olímpica (APO) - Gustavo Stephan / O Globo
ROBERTO MALTCHIK

RIO - Mais afeito à farda camuflada de paraquedista do que ao terno imposto pela condição de autoridade olímpica, o comandante dos Jogos do Rio acredita que o pior já passou para que o Brasil apresente ao mundo, em agosto de 2016, uma estrutura olímpica modesta, porém eficiente. A um ano e sete meses da abertura das Olimpíadas de 2016, o general de quatro estrelas Fernando Azevedo e Silva, presidente da Autoridade Pública Olímpica (APO), reconhece atrasos, mas descarta a possibilidade de o país não entregar a tempo qualquer obra listada como parte das exigências para a realização do maior evento esportivo do planeta.
— Absolutamente, não (há essa possibilidade). O ano de 2014 foi de nível bom para muito bom. O Parque Olímpico da Barra, o complexo de Deodoro e a vila dos atletas estão muito bem encaminhados. Isso não significa que não existam problemas pontuais internos, em cada uma. Isso é normal. Mas nada que preocupe, que não fique pronto a tempo. Nós não vamos ter instalações suntuosas. Está se enxugando o necessário para fazer uma Olimpíada eficiente — avaliou Azevedo, em entrevista exclusiva ao GLOBO na última quarta-feira.
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O general diz ainda que, até agora, não identificou nenhuma suspeita de corrupção no emaranhado de contratos que compõe a chamada Matriz de Responsabilidade, o sistema que identifica a evolução das instalações e estabelece quem paga e quem executa as 56 obras diretamente relacionadas aos Jogos. Ele estima que metade do total de recursos que devem ser empregados no evento saia dos cofres públicos.
— Por enquanto não tem um senão em relação a este aspecto — afirmou, antes de salientar que os efeitos da operação Lava-Jato ainda não alcançaram o projeto olímpico. — Os contratos estão assinados e as obras estão seguindo. Não teve implicação nenhuma até o momento. Nada, nada. Do meu conhecimento, nenhum problema com relação a este aspecto.
A convicção, no entanto, desaparece quando o assunto é a possibilidade de a sujeira da Baia de Guanabara atrapalhar as provas de Vela, temor que acompanhará os atletas até a última regata. Questionado sobre a chance de uma medalha mudar de dono por causa de um obstáculo no trajeto, o general olímpico apela para o inusitado.
— Fui praticante de esporte. O esporte é bom, é assistido no mundo inteiro pelo inusitado. Têm exemplos e exemplo olímpicos de coisas inusitadas que aconteceram. Nós já tivemos o primeiro evento teste, e a qualidade da água estava muita boa durante o evento inteiro. Eu torço para que não aconteça, e não deve acontecer. Mas os esportes são inusitados em vários aspectos. Já vimos tabela de basquete que quebrou em Olimpíada. Nós temos o inusitado no esporte. Mas (o governo do estado) está fazendo tudo para que não aconteça isso.
Ainda que a redução do esgoto não tratado na Baía de Guanabara deixe muito a desejar, o presidente da APO afirma que o legado das Olimpíadas já está garantindo, especialmente no quesito mobilidade urbana.
— O Rio, em mobilidade, será outro depois das Olimpíadas. O Rio será outro, a parte de mobilidade, o Porto... Então, realmente, o Rio está alavancando em outros setores o legado. Você citou um problema, mas tem outros vários exemplos positivos — completou.
O general é misterioso quando fala sobre seu futuro à frente da APO. E transpira o sentimento de que aceitaria de bom grado uma nova missão na reta final de preparação dos Jogos. Fernando Azevedo Silva só aguarda uma sinalização do novo comandante do Exército, que toma posse em 12 de fevereiro, para saber a batalha que lutará durante os próximos meses.
— Eu sou da ativa e cumpro missão. Eu tenho sempre que estar em condições de voltar (para atuar no Exército). Estruturei a APO; lançamos a matriz de responsabilidades, que era fundamental; montei uma equipe técnica, que é muito boa; um sistema de monitoramento exemplar. Então, a APO está bem encaminhada. Insubstituível, ninguém é.
O GLOBO/montedo.com

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