6 de dezembro de 2014

Buchas de canhão.

Há 2.400 militares cumprindo uma função para a qual não são treinados, a de policiamento, e servindo como buchas de canhão para que as elites da cidade se achem protegidas.

Luiz Fernando Vianna
Militares na Maré (Foto: Fernando Quevedo/ O Globo)

Rio de Janeiro - O cabo Michel Mikami, de 21 anos, foi morto por traficantes na sexta-feira passada, num tiroteio no Complexo da Maré. No dia seguinte, o governador Luiz Fernando Pezão pediu a terceira prorrogação da permanência do Exército. Pode ter dado a senha para que outros jovens militares sejam assassinados.
As Forças Armadas estão desde abril na Maré. No início, boa parte do efetivo era do Rio de Janeiro, e a "ocupação do território" exigia movimentação constante.
A necessária substituição de tropas trouxe mais homens de fora do Estado, como o paulista Mikami, nascido em Vinhedo e que servia em Campinas. Encontraram uma realidade pesada, em que traficantes muito armados se deslocam em lugares de difícil circulação, numa área de 800 mil metros quadrados.
Moradores perceberam que os militares passaram a ficar mais tempo fixos em seus postos. As facções do tráfico (há três em ação na Maré, além das milícias) também perceberam. Com áreas livres, retomaram os confrontos por pontos de venda de drogas. Bandidos que tinham fugido começaram a voltar. Em setembro, um líder comunitário apoiador das UPPs foi assassinado. Parados e inexperientes, jovens como Mikami se tornaram alvos fáceis.
Pezão, o ex-governador Sérgio Cabral e o governo federal acham que "pacificação" se faz com tanques nas ruas, violência contra moradores, sem políticas sociais ou interesse em ouvir as 130 mil pessoas que vivem nas 16 comunidades. Há 2.400 militares cumprindo uma função para a qual não são treinados, a de policiamento, e servindo como buchas de canhão para que as elites da cidade se achem protegidas.
O novo comandante das UPPs é mais um coronel egresso do Bope, batalhão que entra em favelas para levar a morte, não a paz. Com tal paradoxo não se vai longe.
FOLHA DE SÃO PAULO, via Resenha do EB/montedo.com

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