4 de abril de 2014

A FAB na Amazônia: "Eu sabia que vocês viriam!"

I COMAR – A Força Aérea Brasileira na Amazônia Oriental
Exemplo de pista construída pela COMARA em meio à mata fechada.
Você sabia que a Amazônia brasileira tem a extensão da Europa? É nessa região de dimensões continentais que está localizado o complexo de 12 unidades do Primeiro Comando Aéreo Regional (I COMAR), abrangendo os estados do Pará, Maranhão e Amapá, compondo a Amazônia Oriental. É lá que a Força Aérea Brasileira atua em localidades onde somente o avião chega, e foi lá que a frase “Eu sabia que vocês viriam” foi dita, expressando o sentimento dos brasileiros que habitam a nossa floresta ao avistar uma aeronave da FAB.

Uma floresta, dois comandos aéreos regionais
A presença da Força Aérea Brasileira na região amazônica ocorreu a partir de 1935 através do Correio Aéreo Militar, com o prolongamento da linha Teresina-Fortaleza até Belém. No ano seguinte, foi ativado o núcleo do 7º Regimento de Aviação. Em 1941, dentro das mudanças administrativas do então Ministério da Aeronáutica, foi criada a Primeira Zona Aérea, abrangendo os estados do Amazonas, Pará, Maranhão, e Territórios de Guaporé, Acre, Rio Branco e Amapá.
Já eram os primeiros passos para o controle da grande mancha verde que era a floresta para o país, e essa mancha passou a ficar mais nítida a medida que, pela terra e pelo ar, a Aeronáutica se fazia presente na região. Foi o período do que ficou conhecido como o Trinômio FAB/Missionário/Índio, que traduz a chegada do Estado e da educação formal para as comunidades que viviam isoladas do restante do país.
Em 1983, a região foi dividida em dois Comandos Aéreos Regionais, com a criação do VII COMAR (já apresentado no blog. Confira aqui!). O I COMAR, que até o momento era a sede da Primeira Zona Aérea, passou a compreender os estados do Pará, Maranhão e Amapá, o lado oriental da Amazônia Brasileira.
Significativa é a denominação “primeiro”, que expressa o pioneirismo em diversas frentes, pois, conforme vamos conferir agora, as unidades ali presentes têm feitos que ultrapassam o espaço aéreo brasileiro.
Oficial médico atende paciente em rede dentro de barco na Vila de Curuçambaba, município de Cametá (PA).
Oficial médico atende paciente em rede dentro de barco na Vila de Curuçambaba, município de Cametá no Pará.
AS UNIDADES PAI D’ÉGUA DO I COMAR
“Égua Esquadrão pai d’égua, Falcão”! O grito de guerra do Primeiro Esquadrão do Oitavo Grupo de Aviação (1º/8º GAV, helicóptero) pode ser estendido a todas as organizações militares presentes na região, pois trata-se de expressão local do Estado do Pará para pessoas e fatos que impressionam. As características geográficas e climáticas exigem do efetivo que se faça além do possível, e a história comprova que aqueles que servem na Amazônia desconhecem limites.

Levar o avião onde nenhum transporte chega. Essa é a COMARA
Imagem do local de pouso da aeronave no Parque Indígena de Tucumaré.
Construir pistas onde não há qualquer ligação com outras regiões do país, essa é a missão da Comissão de Aeroportos da Região Amazônica (COMARA). Criada em 1956, dentro do planejamento da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), a missão da comissão é a implantação da malha aeroviária da região. Nos seus 57 anos de atividade, já foram realizadas a construção e recuperação de 203 instalações aeroportuárias e vias públicas.
Simples, não? Imagine carregar toneladas de material para regiões sem estradas! Como o efetivo, composto por militares e civis, conseguiam sobreviver em meio à fauna e flora inóspita? Quem viveu nos primórdios da COMARA sabe o desafio que foi integrar a Amazônia ao país e levar cidadania às comunidades locais. O Major Dentista da Reserva Carlos Kizan Dias, que antes de ingressar no Quadro de Saúde da Aeronáutica serviu por 17 anos como sargento mecânico de aeronaves, lembra das primeiras ações da comissão na região: “Havia um grande esforço da COMARA e da então Primeira Zona Aérea, na época dos comandos do Brigadeiro Protásio e do Brigadeiro Camarão, para que os aviões pudessem pousar na terra e na água. A bordo do C-47 Douglas, levávamos apoio médico, mantimentos, combustível e equipamentos. Era uma maneira de oferecer a melhor infraestrutura para os que trabalhavam isolados nos canteiros de obras, o efetivo que ajudou no crescimento da Amazônia”.
Através de balsas que carregam toneladas de materiais e equipamentos, cruzando os rios da floresta amazônica, a COMARA cumpre sua missão de integrar a região Norte ao país.

“Eu sabia que vocês viriam”! Unidades que unem o verde à esperança
Membros da Associação Brasileira de Catalineiros em frente à aeronave PBY-Catalina da Base Aérea de Belém.
A presença da floresta amazônica faz com que muitos locais só sejam acessíveis de forma rápida através das aeronaves da Força Aérea Brasileira. Uma das aeronaves mais lembradas da região é o PBY – Catalina, conhecida pelas diversas missões de busca e resgate realizadas no início da atuação da FAB no Norte do país, pousando em terra ou na água. “O Catalina foi o orgulho da minha vida e de muitos catalineiros. Cada Catalina tem sua história na Amazônia, pois sua chegada às comunidades que viviam no centro da floresta significava esperança”, relata o Suboficial da reserva e mecânico de voo Almir Prata Machado, que tem 14.725 horas de voo.
A Associação Brasileira de Catalineiros, sediada em Belém, reúne todos os militares que atuaram ou se identificam com as missões realizadas pelo Catalina.
Atualmente, há três esquadrões atuando na área de jurisdição do I COMAR. O Primeiro Esquadrão do Oitavo Grupo de Aviação (1º/8º GAv, Esquadrão Falcão, asas rotativas), o Terceiro Esquadrão do Sétimo Grupo de Aviação (3/7º GAv, Esquadrão Netuno, patrulha) e o Primeiro Esquadrão de Transporte Aéreo (1º ETA, Esquadrão Tracajá, transporte).
Estas unidades, tripulações e aeronaves, participam, além das missões de emprego da Força Aérea, de Ações Cívico-Sociais (ACISO), Evacuação Aeromédica (EVAM), apoio aos órgãos governamentais, à Marinha e ao Exército Brasileiro e apoio às Missões Indígenas.
Essas atividades não trazem benefícios apenas para quem é atendido, mas também para o efetivo que realiza as missões. “O Esquadrão Tracajá realiza diversas missões em apoio às comunidades e organizações que atuam na Amazônia. Uma que me marcou foi o apoio dado a uma equipe médica que atendia aldeias no Parque Indígena de Tucumaré. Nunca esqueci os olhares de felicidade quando chegamos e os agradecimentos que recebemos” relata o 1º Tenente Aviador Jardel de Souza Santana, do Esquadrão Tracajá.
Integrando as missões, o efetivo do Hospital de Aeronáutica de Belém (HABE) está acostumado a atender pacientes em locais de difícil acesso, o que exige preparo para escolher os materiais corretos e realizar os procedimentos conforme as peculiaridades de cada comunidade. “Desde 2013, o HABE tem intensificado a realização de uma série de cursos de preparação para atendimentos em locais de difícil acesso, transporte de pacientes em aeronaves e atendimentos no próprio local. Há frequentes atendimentos em comunidades indígenas e canteiros de obras da COMARA. Esses cursos são importantes porque esses atendimentos são característicos da rotina do militar da área de saúde da Aeronáutica, não é algo que realizamos na atuação profissional no meio civil”, destaca a 2º Tenente Enfermeira Mônica Gomes Simões Medeiros, do HABE.
Mas nem sempre as aeronaves precisam sair do solo para ajudar a comunidade do entorno. É na Base Aérea de Belém (BABE) que crianças conhecem as diversas especialidades das profissões da Força Aérea Brasileira, por meio do programa de visitas de escolas e instituições. Em 2013, entre as visitas realizadas, a BABE recebeu crianças e adolescentes da Associação Colorindo a Vida, entidade civil que atende pessoas em tratamento de câncer.
Também ocorreu a visita de alunos da Escola Estadual Madre Rosa Gattorno, onde é realizado o Projeto Profissões. Após perguntar às crianças de 10 a 12 anos o que queriam ser no futuro, a professora Cristina Alves Damião descobriu que grande parte delas desejava ser assaltante ou traficante de drogas, por associarem as práticas ilícitas verificadas na comunidade ao dinheiro fácil e à satisfação de desejos pessoais. Foi então que a professora criou o projeto, com o intuito de mostrar aos alunos pessoas da comunidade que tinham profissões honradas.
Os oficiais aviadores, em solo, organizam as visitas e, quando há disponibilidade, realizam voos pelo entorno da cidade, realizando o sonho de muitas crianças de voar pela primeira vez. “Receber essas crianças foi motivo de muita felicidade. É indescritível a sensação de enxergar o brilho nos olhos delas ao verem as aeronaves de combate de perto e ao conhecerem o trabalho dos nossos militares. Sinto-me honrado em ter a oportunidade de contribuir para a boa imagem da Força Aérea, principalmente para um público que representa o futuro da nossa nação” relata o 1º Tenente Aviador Adriano Takeo Oba, do Esquadrão Falcão.
FORÇA AÉREA Blog/montedo.com

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